Zoom: III Movimento
2017
Pátria – arte.arquitectura.design • Lisboa
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Para quem sabe será evidente, mas para um leigo – ainda para mais sem jeito nenhum para estas artes – é quase uma revelação. Verificar que é através do adensar das sombras que se revela a luz. Camada sobre camada. Pincelada a seguir a pincelada, o vincar do carvão ou da tinta escura vai fazendo sobressair as formas, os percursos vincados de uma veia, o pulsar de um gesto que é sempre diferente.
«Já está bom, não está?», pergunto eu, feito aprendiz de feiticeiro à la minuta. O João sorri, ele sorri sempre, e reponde algo evasivo… «eu ainda vou continuar». O resultado final confirma essa atenção aos contrastes que definem as linhas de força e dão realidade a cada mancha, subitamente materializada em detalhe que ajuda a definir toda a cena à volta.
Esta atenção levada até à pele, para ver quase o respirar de cada poro, passou mesmo a ser o elemento central deste conjunto mais recente de telas. Um mergulhar na cor, inicialmente, mas depois a passagem para um nível mais secreto, em que os elementos concretos são apenas grandes texturas, uma pequena ondulação se avoluma numa imensa cratera escura, o que antes era precisão se transforma num caos de linhas concorrentes e uma planície de grão indefinido.
João Freire passou para o plano muito próximo para captar melhor o que não temos geralmente presente. Ou só podemos ver quando há tempo para ver de facto. Um ZOOM dinâmico, em função da distância, da lonjura que se encurta a cada passo e faz alterar quase dramaticamente a perceção de cada gesto mutante (vire-se 90° qualquer destas obras, e junta-se mais uma variável no ato de olhar) desta nova exposição individual. O III Movimento de uma aventura que transforma o real para o fazer desejo.
António Diegues Ramos