Light Up: II Movimento
2016
White Loft • Lisboa
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São muitas as formas de ver algo que nos pode surpreender, interessar, ou simplesmente surgir diante de nós, inesperadamente. Um mosaico de mãos, por exemplo, como aquele que é proposto na nova exposição de João Freire. Conjunto de dedos, tendões, gestos que se definem no ar, sem intenção aparente. Aparentemente.
Mas, ao segundo olhar, talvez se possam descobrir sentimentos que contam uma história e as suas emoções, como as que acontecem à volta de uma mesa, entre amigos, conhecidos. Possíveis opositores, rivais, ainda que por um momento.
Como a palma que se estende confiante, aberta, enquanto outra se estreita, cúmplice. A pressão digital que define o sulco, ao lado de uma expressão calma que deixa o pulso relaxado. Leituras sobrepostas no acumular de posições que se definem, autonomamente. Série de personagens com vida própria, que vivem na sua pele e se fazem únicas, separáveis, embora partilhando este momento.
Quantos falam aqui? De quem é a mão que se atravessa? Não interessa, ou é o que menos interessa. Entre todas, o único ponto em comum é o feixe de luz que perpassa toda esta coreografia, fazendo sobressair, em alto contraste, cada textura e forma. Definindo as sombras que tornam mais evidente, até porque às vezes escondem e sujam a precisão dos detalhes.
É este mesmo foco partilhado que denuncia os gestos desta conversa animada. Como em todas as conversas, com vozes sobrepostas, que cortam e completam as frases, os risos, os silêncios. Uma troca que recusa a definição, antes se aquecendo em traços por vezes interrompidos, propositadamente indistintos. Veja-se como se quiser, há muitas formas de olhar.
António Diegues Ramos