Limite

O gesto está, de forma tão aparente, exposto a todos os olhares que o queiram ver. Mas esconde o quê, efetivamente?

• o arrepio da pele por baixo do pano,
• o suspiro do tecido que se puxa e deforma,
• o cruzar inédito das formas previamente direitas,
• a linha perturbada nos sentidos, antes tão paralelos e isentos.

Isto se pensarmos apenas no que não se vê, mas se adivinha.

O gesto que a mão faz, público.

O efeito que este toque provoca, privado.

Por baixo dos panos, a revolta das superfícies planas que se fazem curvas e contracurvas, mapas de preto e branco, luz e cores que sabemos ou inventamos. As formas cada vez mais complexas, mas que resultam na harmonia simples conseguida pelo equilíbrio das proporções certas, captadas na pureza do traço a carvão. São estes alguns dos novos ingredientes dos mais recentes trabalhos de João Freire. A mão continua o seu elemento principal, num universo de imagens que cresce em complexidades. Centro do mundo outro que tocamos, exterior a nós, mas prolongamento da individualidade que só assim se faz mais rica.

António Diegues Ramos