João Freire
Nascido em Lisboa, João Freire completou o curso de Arquitectura na ESBAL, tendo começado um percurso profissional nesta área, que manteve desde então.
A descoberta do design, ligado ao meio da publicidade, foi um passo consequente, trabalhando há vários anos como director criativo. A pintura foi sempre um universo que explorou ao longo deste percurso, em resultado da vontade de explorar outros caminhos que se interligam na sua formação. Com seis exposições individuais, tem trabalhos seus representados em diversas colecções particulares.
Bruma
2019
Barros & Bernard • Lisboa
–
Desejado
É algo de que não tomamos consciência, que está lá. Apenas está. Não fosse a sombra, a nossa sombra, a maior prova da própria existência que temos. Não se nega. Sem sentirmos, perene, não engana. Nem trai. Não abandona, não sossega nunca o corpo que avança, que luta, que mexe, aperta e abraça, sobe e deita sobre a terra, que cai e ergue. De novo. Linhas que se cruzam quando tomadas pelo movimento de uma mão que puxa, transparências sobre transparências, olhar perdido no detalhe. E mergulha. Porque espera outra sombra, a de outro alguém.
Novembro. Luar coberto, a ameaça do frio, as cortinas que ocultam, furtando-se a curiosidades alheias. É quase irresistível, o desejo de descobrir o vulto que se aproxima, nas penumbras, no contraste da luz, doce, nevada, que se derrama entre os prédios. Cada momento de espera tem esse efeito, o de aumentar o desejo, o medo, ou o irracional que nos tornar mais frágeis, a cada momento que passa. Espreitar de novo, mais uma vez, enquanto se espera, tateando, tocando, afastando o que tapa e não deixa olhar.
Vem ou não, vem.
Ou não.
Vem.
Há uma expressão contínua e tão própria da sua pintura que João Freire trouxe à sua sexta exposição individual. Mudança após mudança, os tons que ficam mais ou menos distantes, e onde há uma presença. Marca distintiva que se afirma. Impressão digital do autor. Como sempre. Só que, agora, com duplos sentidos. Jogo de luz. Não é sombra, é bruma. Será que vi bem? Recomecemos.
António Diegues Ramos